O Castelo de Leiria edificado em posição dominante a norte sobre a povoação e o rio Lis e a paisagem natural é um dos "ex-libris" da cidade que recebe anualmente entre 50 e 70 mil turistas.
História do Castelo de Leiria
Apenas se sabe que antes da construção do mesmo poderá ter existido uma ermida e uma alcáçova no local.
Na época da Reconquista cristã da Península Ibérica a região constituía no século XII um ponto nevrálgico da defesa da fronteira sul do Condado Portucalense tornando-se num próspero centro económico medieval graças ao comércio de cereais e produtos alimentares (trigo, azeite, vinho, frutas), madeiras (pinhal de Leiria), minérios (ferro, carvão, sal-gema, calcário) e produtos artesanais (lanifícios e tecelagens, couros, olarias, ferragens).
Ao consolidar o seu governo a partir de 1128, o jovem D. Afonso Henriques (1112-1185), planeia alargar os seus domínios então limitados a norte pelo rio Minho, a sudoeste pela serra da Estrela e a sul pelo rio Mondego.
D. Afonso Henriques estrategicamente fez erguer de raiz um novo castelo entre Coimbra e Santarém (1135) no alto de uma elevação rochosa um pouco ao sul da confluência do rio Lis com o rio Lena, sob o comando de D. Paio Guterres foi confiada a defesa da nova fronteira que ali tentava firmar.
O monarca organizou uma contra-ofensiva para conter o avanço dos mouros na épica Batalha de Ourique (25 de Julho de 1139) e outorgou Carta de Foral à povoação determinando a reconstrução e reforço da estrutura do castelo, no qual fez erguer uma Capela sob invocação de Nossa Senhora da Pena (1144-1147).
O castelo de Leiria pertenceria de forma permanente ao Condado Portucalense ajudando na conquista de Santarém e Lisboa e na construção do país.
O seu sucessor, D. Sancho I (1185-1211), concedeu novo foral à vila (1195) determinando erguer-lhe uma cerca amuralhada e o desenvolvimento da vila era tão expressivo na época que a fez sede das Cortes de 1254 convocadas por D. Afonso III (1248-1279).
Ao rei D. Dinis que se atribui a adaptação do castelo à função de palácio, a reconstrução da capela de Nossa Senhora da Pena, o início da construção da poderosa Torre de Menagem (8 de Maio de 1324) poucos meses antes do seu falecimento foi concluída no reinado de seu sucessor conforme inscrição epigráfica no seu exterior.
D. Dinis terá sido o monarca que mais tempo passou em Leiria, juntamente com a sua esposa, a Rainha Santa Isabel, a quem é atribuída a lenda do Milagre das Rosas sendo esta apenas uma das várias histórias que nasceram em Leiria graças a estes reis.
A lenda reza que a rainha saiu do Castelo de Leiria numa manhã de inverno para distribuir pães pelos mais desfavorecidos, surpreendida por D. Dinis perguntou onde ia e o que levava no regaço, a rainha respondeu: São rosas, Senhor! desconfiado D. Dinis inquiriu: “Rosas, em Janeiro?” e D. Isabel expôs então o conteúdo do regaço do seu vestido e nele havia rosas em vez dos pães que ocultara.
Nos séculos seguintes o Castelo e a cidade viriam a sofrer danos com as invasões francesas ficando quase ao abandono.
O esforço da Liga dos Amigos do Castelo e do famoso arquiteto suíço, Ernesto Korrodi que ali realizaram obras de recuperação e que devolveram a ligação entre este magnífico monumento e a população.
No ano de 2021 foram concluídas as obras de requalificação de grande parte do espaço que permitiram valorizar a sua riqueza patrimonial e aumentar o seu potencial turístico e aberto a todos os cidadãos através da construção de dois acessos mecânicos (no lado norte e no lado sul).
Características do Castelo de Leiria
A configuração actual do castelo de Leiria resulta de quatro grandes períodos interventivos: o Românico do século XII, o Gótico dionisio da primeira metade do século XIV, Gótico joanino de inícios do século XV, as correntes restauradoras de finais do século XIX e primeira metade do século XX.
O castelo apresenta planta poligonal irregular marcada pela solidez de seu sistema defensivo (muros e torres), no interior do qual se destacam o Paço Real, a Igreja de Santa Maria da Pena e a Torre de Menagem.
Nesta cerca se rasgam duas portas: a Porta do Sol a sul, onde hoje está a Torre da Sé, e a Porta dos Castelinhos a norte flanqueada por duas torres.
As principais estruturas do castelo de Leiria
Porta da Albacara (recolha de gado) em estilo românico em cotovelo conforme o uso muçulmano, no embasamento das torres que a defendem, encontram-se algumas lápides com inscrições romanas oriundas da antiga "civitas" de Colipo, que existiu a perto da Barreira - na verdade grande parte do castelo foi construído com as pedras da civita, a não ser as pedras para aqui transladadas.
Casa da Guarda, conjunto erguido à época dos trabalhos de restauro iniciados em 1915, conforme projeto original de Korrodi, no seu alpendre figuram algumas colunas e mísulas tardo-góticas oriundas do claustro do antigo Convento de Santa Ana de Leiria (1494-c. 1917-1920), das monjas da Ordem de São Domingos.
Torre dos Sinos, porta de acesso ao primitivo recinto fortificado de forma pentagonal e com arcadas românicas e aduelas contendo sinais cruciformes orbiculares ou templários.
No século XIII foi adaptada como torre sineira da vizinha Igreja de Santa Maria da Pena quando foram rasgadas novas janelas em estilo gótico foi também denominada, como Torre da Buçaqueira o que pode indicar que nela se abrigariam os falcões usados pela realeza em suas caçadas.
A Igreja de Nossa Senhora da Pena ou Igreja de Santa Maria da Pena foi o primeiro templo de Leiria, estando documentada logo na década de 40 do século XII e a capela casteleira foi totalmente refeita nos reinados de D. João I e D. Manuel I nada restando da traça inicial.
A igreja tem uma única nave rectangular com uma nave e capela-mor em estilo gótico acedida lateralmente por um portal ogival de cinco arquivoltas apoiadas em colunas lisas.
A ábside poligonal revela cobertura de abóbadas nervuradas de 7 panos e os panos laterais da capela-mor são rasgados por frestas ogivais de dois lumes encimadas por quadrifólios.
A Igreja foi utilizada como capela palaciana pela Dinastia de Avis e no coro podemos mesmo ver uma pedra romana de Collipo dedicada ao imperador Antonino Augusto Pio e saindo pela sacristia manuelina temos acesso às ruínas.
As Ruínas da Colegiada dos cónegos e clérigos crúzios de Leiria em local de interesse arqueológico onde existiam sala de audiências, celas e dormitórios, refeitório, cozinha, pátio, cisterna que atendiam aos religiosos e serviam a Igreja da Pena.
Os Paços do Castelo e Paços Reais com planta quadrangular, nas dimensões de 33 m x 21 m, constituído por torres laterais de 4 pisos e um corpo central de 3.
No pavimento inferior, encontra-se um amplo salão com três robustos arcos góticos (Salão dos Arcos), enquanto no segundo piso dois salões menores serviam ao dia-a-dia do palácio (cozinha, adega, dormitório).
No terceiro pavimento, os quartos régios situam-se nos extremos, divididos pelo Salão Nobre (Salão das Audiências) que abria para uma galeria ou loggia de arcaria gótica mediterrânica de onde se pode usufruir de uma bela paisagem sobre a cidade. Os dois corpos que o flanqueiam constituem um quarto piso que tinha o seu interior repartido por luxuosas instalações sanitárias.
O Pátio Interior de interesse histórico e arquitectónico é testemunho das políticas de restauro do monumento no século XX, com destaque para as opções pela falsa ruína e pelo trabalho intencionalmente inacabado.
Celeiros Medievais é o conjunto de três celeiros datável do século XIII, abobadados em alvenaria que deveriam ser primitivamente rematados por construção em madeira e taipa, hoje desaparecida.
A Porta da Traição e Falsas Ruínas, rasgada num pano da muralha a oeste quase que integralmente restaurado na década de 1930, assinala o sítio da porta original, onde se crê terem entrado os Muçulmanos numa das tomadas ao castelo.
A Torre de Menagem de planta prismática, elevando-se a 17 metros de altura (alguns adicionados durante a sua reconstrução), divide-se internamente em três pavimentos encimados por terraços e coroados por merlões quadrangulares foi mandada executar sobre os alicerces de uma torre anterior por D. Dinis e uma lápide epigráfica gótica com os brasões reais inscritos assinala tal facto no lado esquerdo junto à porta.
A Torre Sineira da Sé, em estilo barroco, ergueu-se sobre uma das antigas torres medievais da Porta do Sol e, por volta de 1546 procedeu-se ao seu alargamento e reforma, e aproveitou-se a porta do castelo para instalar a casa do sineiro.
As Portas do Norte ou dos Castelinhos marcam o início das muralhas românicas de Leiria que envolviam um perímetro de cerca de 5 hectares para Norte e a Este, anteriores a 1152 davam acesso à desaparecida igreja paroquial de Santiago e à Ponte Coimbrã.
As Portas do Norte são compostas por duas quadrigas de vigia e uma barbacã em cujo pórtico se inscreve um dos brasões mais antigos do concelho de Leiria (século XIV), em torno de um castelo dois pinheiros encimados por corvos simbolizando a lenda da fundação de Leiria por D. Afonso Henriques.
Antigo Paço Episcopal, hoje ocupado pela PSP constitui um significativo exemplar da arquitectura solarenga portuguesa do século XVII, destacando-se o portal e a janela nobre sobreposta, ergue-se no sítio dos antigos Paços Régios de São Simão onde residiam: D. Afonso III, D. Dinis, a Rainha Santa Isabel e D. Fernando foi neste local onde ocorreram as Cortes de 1254.